VCUF - Volta Cerdanya UltraFons - Prelúdio

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“Adventuring can be for the ordinary person with ordinary qualities, such as I regard myself.”
- Edmund Hillary

“O desporto é para quem não aguenta as drogas.”
- Lilly Tomlinson

“A que devo a minha longevidade? Ao desporto… nunca fiz!”
- Winston Churchill


Eu não tenho qualquer interesse em levar para a cova um cadáver muito bem conservado. Quero que a minha história fique gravada nos meus ossos. Espero levar o rosto sulcado pelas marcas da minha travessia. O corpo rasgado pelos vários incidentes que provem que não me limitei a permanecer imóvel neste mundo, para que no meu epitáfio se possa dizer que vivi.

Não quero com isto dizer que não estou interessado em viver uma vida longa, e gozar de boa saúde. Claro que quero ter a oportunidade de fazer aquilo de que gosto durante o maior número possível de anos. Mas que sejam anos cheios. E se a escolha for entre viver muito tempo ou simplesmente viver muito, para mim a opção é clara. 



O enquadramento está feito. Procurei no DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - 5ª edição), mas não consegui encontrar corretamente caracterizada a desordem que me aflige a mim e muitos outros que padecem deste mesmo mal. 

Sempre que o tema vem à baila, em conversa com um não-iniciado e se menciona um Ultra -Trail de 3 dígitos, um silêncio incrédulo recebe essas palavras e o interlocutor pergunta: "mas no mesmo dia? e a correr?"

Talvez a minha filha tenha sido quem melhor encerrou a questão, quando em conversa ao redor da mesa eu afirmei que, nós, Ultra Trail Runners, qualquer dia ainda iríamos aos Jogos Olímpicos, ao que ela retorquiu: "só se for aos Para-Olímpicos pois vocês são malucos..." 



Os 214 km da Volta Cerdanya UltraFons consistem numa corrida pedestre contínua, em percurso circular, com tempo limite de 56 horas, em ambiente de montanha, entre os 1.000 e os 2.200 m de altitude e com um desnível positivo acumulado de 10.000 m.

Em termos acumulados é como ir do nível do mar até ao topo do Evereste, e depois ainda mais um bocadinho... :)




Para termos comparativos, utiliza-se por vezes a seguinte fórmula: 

Distância equivalente = 214 km + (10 km x 10) = 314 km lineares.

Ou seja, uma prova deste tipo seria grosso modo equivalente a correr 314 km em plano.




Porque fazer uma corrida de 200 km nas montanhas?

A melhor resposta talvez seja mesmo a de Sir Edmund:

“Why climb the highest mountain in the world? Because it’s there!”
- Edmund Hillary

Está lá, com o seu apelo irresistível… mas é um pouco mais do que isso.

“It is not the mountain we conquer but ourselves.”
- Edmund Hillary

É esta conquista que nos fascina, que nos motiva. Ir mais além, sempre mais além…








Já me têm perguntado várias vezes como é que se treina para um Ultra Trail de 200 km. A minha resposta é sempre a mesma: da mesma forma como se treina para uma corrida de 100 km: muito volume, muitas horas de treino e sobretudo muito desnível positivo.

Até ao UTA - Ultra Trilhos dos Abutres, em Janeiro deste ano, estive 5 meses a cerca de 50% do meu habitual, fruto de uma série de lesões, cansaço e desmotivação. A UTA funcionou como um catalisador, que me ressuscitou para o prazer da corrida. Desde então tenho treinado duro, como se pode ver neste gráfico:




Para uma Maratona o habitual é fazer os chamados treinos longos de cerca de 30 km. Para um Ultra Trail de 100 km seguramente não necessitamos fazer um treino com ¾ da distância, ou seja 75 km. Para um de 200 km... nem pensar!

Podemos, no entanto, fazer algumas provas e encará-las como provas preparatórias. Este ano fiz o UTA – Ultra Trilhos dos Abutres, de 47 km com 2.300 mD+, o UTS – Ultra Trail de Sesimbra, de 52 km com 1.600 mD+ e o TLSM – Trail Longo de S. Mamede, com 44 km e 1.300 mD+. A cereja em cima do bolo foi o MIUT – Madeira Island Ultra Trail, com 115 km e 6.800 mD+. 

Seja como for, a diferença entre os meus modestos treinos e os dos atletas de elite, está bem patente no seguinte gráfico, em que comparo os meu treino com o do Julien Chorier, vencedor do MIUT. As curvas a azul são minhas. As a vermelho são do Julien.




Um atleta de elite não percorre muitos kms por semana. Mas sobe muito! Mesmo muito!!!



Apesar das minhas grandes limitações na minha humilde condição de atleta de pelotão, já tenho alguma experiência em provas desta ordem de grandeza.

Em 2012 completei os 168 km do Ehunmilak em 39h42m.

Em 2013 completei os 160 km do Grand Raid des Pyrénées em 36h42m.

Cada uma das provas teve a sua especificidade. O que me custou mais? A 2ª noite sem dormir foi talvez o obstáculo mais duro e mais demolidor. É uma forma de tortura do sono.

Sei que vou correr os primeiros 107 km da VCUF com as pernas e os pulmões. A partir da metade dos 214 km, se o corpo aguentar até aí, o que vai contar mesmo vai ser a cabeça.

Conto com o espírito, meu e de todos aqueles cujo apoio vou sentir ao longo de cada um dos 214 km, para me levar até ao fim desta aventura.


A organização planeia fornecer aos atletas uns dispositivos GPS, portanto podem seguir-me, a partir de dia 6 de Junho, em TraceMyWay

A mim e aos outros companheiros lusos que irão estar na linha de partida:

Celia Azenha
Gabriel Meira
Jorge Serrazina
José Simões
Luis Miguel Matos Ferreira
Luis Freitas
Paulo Freitas
Paulo Jorge Alonso Rodrigues


Possa a força estar connosco!


http://www.ultrafons.com/





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